Pular para o conteúdo principal

Município doa praça à igreja católica


Praça do Rádio, em 2018, no lugar da igreja que não foi construída



Com parecer contrário do vereador Tertuliano Meirelles, a projeto de iniciativa da intendência geral do município, a câmara municipal aprova em 12 de abril de 1927, doação de terreno (atual praça do Rádio Clube) à paróquia de Campo Grande, destinada à construção da igreja matriz da cidade. O voto divergente do vereador foi justificado pelo seguinte relatório:
 No regime político extinto do Brasil imperial, as ordens monárquicas, as congregações religiosas, as confrarias e irmandades eram consideradas pessoas jurídicas de direito privado sujeitas ao competente registro para que pudessem operar como entidades coletivas. A formalidade do registro era estatuida pelo decreto n°  2711 de 1860. Com o advento da República vem o decreto 119-A de 1890, do governo provisório, decreto esse que tem forças de lei, e que nos artigos 3, 4, e 5 reconheceu a personalidade jurídica das igrejas, congregações religiosas, institutos e agremiações eclesiásticas, etc., as quais para gozarem desse predicamento, deveriam inscreverem-se no registro estabelecido pela lei n° 173, de 1º de setembro de 1893. Com a promulgação do Código Civil nenhuma alteração foi feita nessa matéria, continuando assim a serem tidas como pessoas jurídicas de direito privado, de acordo com o disposto no art. 16, n° 1, todas as entidades referidas neste parecer que se submeterem aos preceitos do registro, exigido no art. 18 do Código sem o qual elas não terão existência jurídica.

Conclui o relatório julgando:


Em virtude do exposto no texto do Código, as pessoas jurídicas quaisquer que elas sejam, só terão a existência legal, a partir de sua inscrição no registro. Ora, na hipótese, não existe nenhum registro em virtude do qual ficasse primada a organização das associações a que alude a Resolução n° 98, de 25 de junho de 1915, o que quer dizer que elas, a ordem de Santo Antonio e a de N. Sra. da Abadia – juridicamente não tem existência (...). A concessão dos lotes a que se reportam os documentos nºs. 1 e 2, racaiu pois sobre entidades de existência imaginária, estando esses bens na categoria dos chamados bens de evento, sem dono, verdadeiro res nullius, o que os torna incompatíveis com a noção de propriedade, cujo requisito precípuo é fundar-se em causa certa e estável, definida, orgânica e protegida por um agente tutelar de direito.


O projeto foi aprovado, mas a igreja não chegou a ser construída no local. A matriz, inaugurada em 1930, ocupou a mesma área da capelinha erigida por José Antonio Pereira, onde na década de 70 do século XX deu lugar à catedral metropolitana de Campo Grande.

FONTE: Cleonice Gardin, Campo Grande entre o sagrado e o profano, Editora da UFMS, Campo Grande, 199, página 153

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O assassinato do prefeito Ari Coelho

Aos 41 anos é morto a bala, em 21 de novembro de 1952, o prefeito de Campo Grande, Ari Coelho de Oliveira (PTB). O assassino foi Alci Pereira Lima que o acometeu em uma emboscada no prédio da CER-3 em Cuiabá, onde o prefeito fora tratar de assuntos de interesses de seu município. Nascido em Bauzinho, município de Paranaíba, fez seus estudos ginasiais no colégio Grambery, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Formou-se em Medicina em 1933, em Belo Horizonte, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Chegou a Campo Grande em 1934, onde iniciou sua carreira de médico, fundador e proprietário da Casa de Saúde Santa Maria, denominação dada em homenagem à sua esposa dona Maria Arantes. “Eleito prefeito de Campo Grande no pleito eleitoral de 3 de outubro de 1950, assumiu o executivo municipal em 31 de janeiro de 1951, tendo dentro de seu programa de Honestidade, Responsabilidade e Trabalho, imprimido ao município, no curto período de ...

Inaugurada hidrelétrica de Campo Grande

Campo Grande recebe em 13 de abril de 1923, sua primeira hidrelétrica. Trata-se de pequena usina montada no córrego Ceroula a dez quilômetros da sede do município. O ato solene de início de suas atividades contou com a presença de Álvaro de Carvalho e Altino Arantes, por algum tempo responsável pela iluminação da vila.¹ Poucos dias antes da inauguração, a convite da direção da empresa concessionária, a reportagem do Jornal do Comércio esteve no canteiro de obras e deu detalhes sobre o relevante investimento: Para darmos aos nossos leitores uma boa ideia geral do adiantamento dos importantes serviços que para este fim estão sendo executados pela Companhia Matogrossense de Eletricidade Limitada, aproveitamos a gentileza do convite do ilustrado e competente advogado da companhia, sr. dr.Alindo Lima, para uma visita às grandes obras que estão sendo ultimadas no ribeirão Ceroula. Assim, às nove horas de quinta-feira última, chegávamos no automóvel da empresa, ao posto em que foram fe...

Inaugurado relógio central de Campo Grande

É inaugurado na travessa da rua 14 de Julho com a avenida Afonso Pena, em 23 de agosto de 1933, o relógio central de Campo Grande. Foi por quase quarenta anos o principal ponto de referência da cidade. Para Paulo Coelho Machado tratava-se de “um belo monumento de uns cinco metros de altura em alvenaria e o relógio tinha quatro faces (ou mostradores). As badaladas eram ouvidas em toda a vizinhança. A construção foi contemporânea a do obelisco, durante a administração Ytrio Correa da Costa. Dois marcos que despertavam o orgulho dos campograndenses. A iniciativa foi do comandante da Circunscrição Militar, coronel Newton Cavalcante, um militar extremanente interessado na nossa cidade, enérgico, de imaginação e realizador”.  O relógio foi demolido na segunda gestão do prefeito Antônio Mendes Canale (1970/1973). O prefeito André Puccinelli (1997-2005) levantou uma réplica do mesmo na avenida Afonso Pena, entre a Calógeras e a 14 de julho. FONTE : Paulo Coelho Machado,...